“O Carro dos Milagres” apresenta
o caboclo que chega à cidade grande e se impressiona com a quantidade
de gente, a magnitude da Basílica e a força da fé.
Os três capítulos do conto “O Carro dos Milagres” -pertencente ao
livro de mesmo nome- de Benedicto Monteiro retratam uma das festas mais
grandiosas do mundo: o Círio de Nossa Senhora de Nazaré. Essa tradição
popular e religiosa é uma marca do povo paraense, independentemente de
sua religião.
Na referida obra faz-se presente a linguagem popular, os neologismos,
as gírias caboclas e o próprio caboclo. Percebe-se a mistura entre o
profano e o religioso, a crença em superstições e na naturalidade com
que esses elementos são conciliados.
Qualquer um de nós, leitores paraenses- por nascimento ou opção-
encontra-se nas páginas de “O Carro dos Milagres”. Vemo-nos nas
situações apresentadas pelo autor e cada passo dado pela nossa
personagem principal é, talvez, a lembrança de algum momento vivido
durante a procissão.
A promessa feita à Virgem de Nazaré para salvar nossa protagonista da
morte em alto-mar é o motivo que á leva a acompanhar a procissão e
deixar um pequeno barco em agradecimento à Santa, no carro dos milagres.
Para ele, cumprir a promessa torna-se algo muito difícil, ainda mais
depois de uns goles de cachaça tomados juntamente com seu compadre.
Em algumas parte do conto, percebe-se a auto-análise da personagem,
reconhecendo seus erros, porém, como os demais peregrinos usa o discurso
de que todas as outras pessoas também fazem a mesma coisa.
Benedicto Monteiro, de forma simples mas direta, também critica a
postura da Igreja, a hipocrisia com que trata assuntos que possam
manchar a imagem da pureza dessa instituição.
O uso de figuras de linguagem, como a metonímia e a metáfora, é
recorrente, por isso, apesar do autor utilizar uma linguagem coloquial, é
necessário que tenhamos uma leitura cuidadosa e atenta da obra para
melhor captarmos sua essência.
O conto é uma leitura encantadora e mística que faz com que tenhamos um
encontro com nossa cultura e que nos conduz a uma aproximação ainda
maior com a realidade paraense, desfrutando assim de momentos prazerosos
e encantadores.